Por Francisco Góes e Rafael Rosas | Valor
RIO – (Atualizada às 11h22) – Em teleconferência com analistas, o diretor-executivo de finanças da Vale, Luciano Siani Pires, disse nesta quinta-feira que os investimentos feitos pela mineradora devem aumentar no restante de 2019. Siani afirmou que a meta de investimento de US$ 4 bilhões, prevista pela companhia para o ano todo, será atingida. No primeiro e segundo trimestres de 2019, a empresa investiu US$ 611 milhões e US$ 730 milhões, respectivamente.
Siani disse que a empresa espera ter um terceiro trimestre forte, para suportar os custos de reparação causados pelo rompimento da barragem da empresa em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro deste ano, e garantir retorno aos acionistas. No entanto, a companhia afirmou que não está discutindo a distribuição de dividendos aos acionistas no momento.
Segundo o executivo,o provisionamento feito pela mineradora devido ao rompimento da barragem da mina Córrego de Feijão terá “oscilações marginais” no terceiro trimestre. No primeiro semestre deste ano, as provisões da Vale em decorrência do rompimento da barragem superaram os R$ 23 bilhões, sendo R$ 5,3 bilhões no segundo trimestre.
A Vale tem expectativa de chegar a um acordo definitivo com as autoridades brasileiras sobre compensações e reparações do acidente em Brumadinho até o fim deste ano, segundo Siani. A companhia, de acordo com o executivo, já fez diversos acordos com as autoridade, e acrescentou que não deve haver um único entendimento para cuidar de todos os assuntos.
Siani afirmou que existe expectativa de suspensão das Ações Civis Públicas (ACPs) em curso, o que abre caminho para os termos definitivos com as autoridades. A empresa enfrenta três ACPs: uma focada na questão ambiental, outra sócio-econômica e uma terceira existente em Minas Gerais. A expectativa da Vale é que essas ações sejam suspensas via Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) menores, até se chegar ao acordo definitivo.
Siani também frisou que o custo da companhia na produção de minério de ferro será decrescente no terceiro trimestre, com volumes maiores. A melhoria de custos inicialmente esperada para o terceiro trimestre é de US$ 2,5 por tonelada, com outros US$ 1,5 por tonelada referentes a menores despesas de paradas.
O diretor-executivo explicou que, com esse ganho de US$ 4 por tonelada, a expectativa da companhia é de uma elevação de US$ 300 milhões no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) do minério de ferro no terceiro trimestre. Siani disse ainda que, do total de 400 milhões de toneladas de capacidade de produção anual que a companhia tinha antes do rompimento da barragem, cerca de 99 milhões de toneladas foram paralisadas.
Também presente na teleconferência com analistas, o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, destacou o fato de que a retomada da mina de Brucutu, a principal da Vale em Minas Gerais, é importante para retomar a estabilidade de minério de ferro da companhia.
Brucutu, com 30 milhões de toneladas de capacidade por ano, ficou interrompida pela interdição da barragem de Laranjeiras, que faz parte do complexo, mas retomou suas operações recentemente. A capacidade anualizada de produção da companhia vai girar entre 340 milhões e 345 milhões de toneladas, segundo a empresa.
Bartolomeo tmabém confirmou a conclusão da aquisição da mineradora Ferrous, com operações em Minas Gerais, afirmando que a operação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). A operação havia sido anunciado inicialmente em dezembro de 2018.
Segundo Bartolomeo, a Ferrous vai permitir aumentar a produção própria de “pellet feed” – o mais fino dos três tipos de minério de ferro – de alta qualidade, a custos operacionais competitivos.
Pagamento de royalties aumentou
Segundo Siani, os Estados têm cobrado taxas similares a royalties, o que eleva os valores já cobrados sobre a receita bruta pela Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). A CFEM incide com 3,5% sobre a receita bruta, e Siani destacou que, atualmente, a Vale, somada a contribuição sobre outras taxas cobradas pelos Estados, paga cerca de 5% da receita bruta.
Segundo o diretor, quando se compara o pagamento de CFEM no primeiro semestre de 2019 com o primeiro semestre de 2017, houve uma alta de 115% no pagamento, em decorrência de uma alteração na alíquota cobrada em 2017. Questionado por um analista sobre as discussões para novas alterações nas regras de mineração no país – inclusive com a possível proibição do uso de barragens -, Bartolomeo frisou que possíveis mudanças serão discutidas no “fórum adequado”.